Obviamente, a decisão de Neymar pai e Neymar Jr, de comum acordo com o presidente Luís Álvaro, contrariou os interesses do empresário do jogador, Wagner Ribeiro, que, em caso de transferência para o Real, embolsaria uma Mega-Sena sozinho.
E, aqui, esse episódio singular na história do nosso futebol atual ganha novos contornos que sinalizam para um futuro mais promissor nessas relações difusas entre clube, craque e empresário.
Dizia-se até ontem que, com a Lei Pelé, o jogador de futebol apenas trocara de amo – em vez do clube, detentor do passe, grilhão que impedia o ir e vir do atleta à sua escolha, pelo empresário, que o levava para onde seu interesse sinalizasse.
Pois, o caso Neymar restaura o verdadeiro espírito da Lei Pelé: o clube é seu patrão; o empresário, seu empregado; e o jogador, dono de seu destino.
Mais do que isso, a relação entre clube e jogador muda de figura, como mudou quando o Corinthians, ao viabilizar a contratação de Ronaldo Fenômeno, deu-lhe sociedade nos negócios. E, por consequência, muda a relação entre jogador e empresário.
Este, doravante, precisa ser mais criativo na condução dos negócios de seu empregador, não apenas ficar ali na espreita de que o craque ganhe notoriedade para negociá-lo e receber sua parte na transação. Terá de se cercar de especialistas para analisar devidamente o cenário em que seu representado se insere e escolher os caminhos mais convenientes, quebrando a regra do lugar-comum.
Pois, se a figura do empresário de jogador de futebol foi um avanço, ganhando o espaço que os clubes perderam na gestão dos seus negócios, diante desta situação, passa a ser dispensável. Ou evolui, ou morre.
A propósito, lembro uma entrevista com Ronaldo Fenômeno, que, ao pendurar as chuteiras de ouro, virou empresário na área do marketing esportivo, voltado para a criação e manutenção da imagem pública dos jogadores, segundo depreendi.
Pois Ronaldo foi inflexível: Neymar deveria ir já para o Real, onde ganharia uma fortuna incalculável e estaria na vitrine do mundo. É a visão imediatista, um clichê da moda, incompatível com alguém que se propõe a inovar no seu ramo recém-abraçado.
Contra-argumentaram, em vão, com todos esses elementos que compõem o projeto de Luís Álvaro, que vão desde a receita de Neymar, quase a mesma que a Europa lhe oferece, até esse valor inestimável que sua presença na Vila significará, seja no seu patrimônio moral, seja na conquista de uma legião de novos devotos ao Santos.
Ou muito me engano, ou Luís Álvaro inovou também nesse ponto. O Santos, mais até do que o empresário do jogador, passou a agenciá-lo, recebendo comissão pelos contratos publicitários milionários do craque.
Percentagem que caiu com o novo contrato, mas, imagino, capaz de amenizar a perda da multa contratual atual. Ou, pelo menos, compensar o salário desembolsado pelo Santos, que, segundo sei, não excede o valor do mercado para jogadores exponenciais em atividade no país.
E, mais: para que a atuação de Neymar como ídolo e garoto-propaganda se aprimorasse, contratou fonoaudiólogo e um diretor de cena para esmerar o craque nas suas apresentações públicas, seja em entrevistas coletivas, seja nos comerciais.
Isso é pensar grande e lá longe.
E ainda há a possibilidade de o Santos, ao fim do contrato atual, em 2014, conseguir manter Neymar, se for o caso, por mais algumas temporadas.
Segundo entrevista do presidente Luís Álvaro, sua prospecção é a de que a Europa não terá saído da crise econômica em que vive. Talvez, esta se agrave até lá.
Em contrapartida, a economia brasileira, que já anda bem, poderá dar um salto com os resultados do pré-sal, o que nos deixaria numa situação muito mais privilegiada para alçar voos mais ousados. Quem sabe?
Como diria o implacável detetive belga das histórias de Agatha Cristhie, Hercule Poirot, tudo está aqui dentro, nas células cinzentas. Nunca na aparência magnífica das cartolas enceradas.
Por Aleksim Oliveira
Fonte: Portal iG
Fonte: Portal iG
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