terça-feira, 8 de novembro de 2011

LITERALMENTE GUERRA



Uma dos mais fantásticos atributos do futebol é o poder da catarse.

Se bem pensado, veremos que o futebol (como os jogos do Coliseu na Roma Antiga) tem o condão de encenar a guerra entre dois inimigos, uma dramatização destinada a provocar a catarse no público, aliviando-lhe do seu lado mais escuro – o desejo de matar.

Não é à toa que o futebol herdou das guerras, lutas e liças medievais toda uma terminologia bélica – artilharia, tiro, canhão, bomba, petardo, escudos, flâmulas, estandartes, ataque, defesa, trincheira, blitz, tática, estratégia, cerco, combate, e por aí vai.

Mas, como se trata de uma encenação, um jogo lúdico, passou a ser a arma que desarma, ao fim das explosões passionais. Não é guerra de verdade. É guerra de mentirinha, só para que as paixões sejam ativadas durante o embate e desativadas logo em seguida.

Sucede que, nos últimos anos, o torcedor está encarando uma guerra de verdade, o que resulta em atos de violência como o ocorrido outro dia contra o trio de arbitragem do jogo América e Corinthians.

Com um detalhe: a coisa toda não ocorreu no calor da refrega, não. Aconteceu muito depois, já no aeroporto em São Paulo, com tempo suficiente para que os animais fantasiados de corintianos que caíram de pau sobre suas vítimas já tivessem descarregado suas frustrações e seus ódios.

Vê-se claramente que, nos últimos tempos, essa violência esparramou-se dos estádios para as ruas numa densidade impressionante, porque cresce na alma das pessoas esse gosto literal pelo culto ao corpo e ao combate literal, já não mais encenado.

Pegue o amigo como exemplo o surto de popularidade repentino do UFC e suas variantes. Antigamente, era aquela pantomima, aquela imitação de luta-livre, com seus heróis e vilões mascarados que mal tocavam uns nos outros, preferindo dar exibições de saltos mortais e coisas do gênero.

Hoje, não. Hoje, é pau puro, pra valer. Os caras ficam enjaulados naquele espaço como feras predadoras, e sai de baixo que vem porrada!

Sinais dos tempos, fruto, quem sabe, de sutis mutações genéticas, ou, mais provavelmente, da perda de valores culturais limados ao longo destes anos todos pela ausência de um ensino de nível compatível com os nossos dias.


Por Aleksim Oliveira

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