sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Oito e oitenta




Poucos times explicitaram de maneira tão intensa o oito e oitenta nas atuações como o Bahia nesse Brasileiro. No momento do alto, cheguei a pensar que não precisaria mais voltar à questão da entrega. Do jeito que estava, imaginava ter apenas de elogiar a disposição, a raça, até o final da temporada. Entretanto, nos últimos jogos, isso foi quebrado. Aquela sensação de orgulho foi embora. Não que os jogadores estejam entregando, mas o algo a mais sumiu! E no momento mais decisivo do campeonato, o time abraça uma queda de rendimento, vontade e confiança de maneira injustificável! 
 
No artigo passado disse ter percebido a perda do foco no momento da saída de Hélder contra o Fluminense. Pode ser só coincidência, mas continuo achando que, perdendo o diferencial no meio de campo, o time baixou a crista e a confiança foi embora. É provável que Hélder volte contra o Grêmio, porém o que nos garante o retorno no mesmo nível antes da lesão? Não estou querendo “zicar” o jogador, mas ele também entra no oito e oitenta. Apenas temos de ver alternativas, soluções e tentar apresentar o que se quebrou desde então. Os jogadores não estão mais chegando ao limite e Jorginho tem se atrapalhado. 
 
Contra o Corinthians, dificilmente o treinador poderia ter escolhido uma escalação pior dentro do esquema de jogo implantado. Com Fahel, Fabinho, Diones e Kléberson, o time perdeu velocidade, pensamento, dinâmica, passe, finalização. Isolaram completamente os dois homens de frente, Gabriel e Elias. Com os laterais atuais, não tem como limitar o meio de campo dessa forma! Neto é muito bom, mas não tem velocidade nem qualidade no drible para chegar à linha de fundo ou puxar contra-ataques com poucos companheiros. Jussandro tem se esforçado muito, mas ainda está em fase de amadurecimento e trabalha apenas de uma intermediária a outra. Tem um apoio básico e não diferenciado. E os adversários têm colocado sempre alguém em cima dele. A equipe ficou amarrada, sem recursos e foi presa fácil. Por sorte, os paulistas não estavam tão interessados na partida. Douglas, Romarinho, Martinez e Guerreiro pareciam estar disputando um baba depois de uma feijoada. 
 
Uma das coisas que me fez elogiar bastante Jorginho, era a forma como ele conseguia enxergar o jogo e modificá-lo para melhor. Isso também não ocorreu mais. As escolhas iniciais e as substituições têm sido confusas. O posicionamento de Gabriel, tão bem executado nos jogos contra Santos e São Paulo, tem sido terrível individualmente e coletivamente. Não estou comparando a capacidade e sim as características. Gabriel tem estilo de jogo semelhante ao de Oscar, do Chelsea e da Seleção. Não é jogador para ficar isolado como atacante de beirada, tendo sempre que driblar dois ou até três em velocidade, antes que algum companheiro se aproxime. Gabriel não tem explosão, força e rapidez para tal função. Com esse posicionamento, Jorginho repete o mesmo desperdício feito por Caio Júnior. O treinador precisa rever o jogo contra o Santos para colocar as ideias em ordem. Gabriel tem de jogar de frente.
 
Faltam agora seis jogos para o final do Brasileiro. Todos com intervalo de uma semana de um para o outro. É a hora de colocar a cabeça no lugar, recuperar os machucados e, de fato, partir para o sacrifício. Como falou um dia desses um torcedor “tuiteiro” do Bahia, com exageros típicos do desespero que se encontra. “Comovente é Assunção e Barcos matarem a própria família p/ salvar o Palmeiras, enquanto seu muso Souza fica de nigrinhagem”. 

Não levem os termos ao pé da letra, por que ele é resenheiro, mas o questionamento é muito válido. Souza é fundamental nesse time. Fundamental! Justamente por isso, é desesperador ver como ele não se cuida. Um cara que, geneticamente, já é propenso a problemas musculares, não pode ser tão desleixado. O principal atacante do Bahia, não jogou nem 50% dos jogos da temporada por suspensões bobas e lesões musculares repetidas. Não estou culpando Souza pela situação tricolor na Série A, porém o time precisa dele e que Marcos Assunção seja o exemplo!  

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Olhos do Mundo


Fluminense x Grêmio e Atlético/MG x Fluminense foram ótimos jogos. Não é por acaso que são as melhores equipes, com bons elencos e bem dirigidas por seus técnicos. Essas duas partidas, e outras poucas, são ilhas de excelência. A maioria dos jogos é ruim. Falo de futebol coletivo, técnico. Muita emoção e belas jogadas individuais, isoladas, ocorrem até na China.

Diferentemente do jogo entre Fluminense x Grêmio, em que os dois times jogaram muito bem, no domingo, a única excelente atuação foi a do atlético/MG. Poderia ser uma goleada. No gol de Ronaldinho Gaúcho, corretamente anulado, a falta foi clara. Se o Fluminense acreditar demais que é “cirúrgico”, como tanto falam, pode perder outros jogos.

Ronaldinho Gaúcho foi espetacular, tenho que reconhecer isso. Ele calculou até a distância da bola para o pé de Jô e o salto e a altura de Leonardo Silva, para colocar a bola na cabeça do zagueiro no gol de desempate e da vitória.

Falando em craque, lendo uma entrevista de Jorge Valdano (companheiro de Maradona na conquista da Copa do Mundo de 1986), ele que é uma das opiniões mais respeitadas na Argentina e na Europa, ele disse que Messi e Cristiano Ronaldo são hoje os melhores, mas que Neymar é mais inventivo.

Isso dá uma boa e polêmica discussão. Em minha opinião, Neymar é mais habilidoso, fantasista, barroco, bailarino, com um repertório mais variado e com mais efeitos especiais. Messi é mais técnico, minimalista, menos exibicionista. Executa com extrema eficiência o que é necessário. Seus gols são tão simples e concisos, que parecem se repetir.

Apesar de todos serem bastante diferentes, o brasileiro Neymar se assemelha mais ao argentino e artista Maradona, enquanto o argentino Messi se parece mais com o brasileiro Pelé. Não quero dizer com isso que Neymar e Maradona não tenham uma excepcional técnica, e que Pelé e Messi não sejam muito habilidosos e criativos. Por ser Maradona mais show, muitos, especialmente argentinos, acham que ele foi melhor que Pelé.

Daqui a alguns anos, não sei quantos, Messi estará em declínio, enquanto Neymar, provavelmente (espero), estará no máximo de seu esplendor. Após encerrarem suas carreiras, saberemos quem foi o melhor. Hoje, é Messi, que começa a ser comparado, pelos números, a Pelé. Mais importante que as estatísticas é o encanto do craque. Isso não pode ser medido. Pelé foi e é muito mais completo.

Neymar ainda não brilhou intensamente, nem uma única vez, enfrentando os melhores times e seleções do planeta. Não podemos ainda coloca-lo entre os maiores do mundo.

Não podemos ver o futebol apenas com o olhar dos clubes, da cidade, do estado ou do país, com a preocupação de mostrar que somos nacionalistas ou de promover o futebol brasileiro. Temos de enxergar o futebol com os olhos do mundo, sem perder as nossas raízes. 


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Super Técnicos



Aos poucos, o estilo do futebol brasileiro, orgulho nacional, foi modificado e dilapidado. Criaram outro futebol.

Muitas equipes passaram a jogar com 03 zagueiros (03 autênticos ou 02 e mais 01 volante-zagueiro), a fazer marcação individual, como a de Adriano sobre Ronaldinho Gaúcho, no jogo entre Santos x Atlético/MG, a jogar com 02 ou 03 volantes brucutus, para proteger os zagueiros e fazer cobertura dos laterais, a ter um único meia responsável por toda a criação de jogadas, a dar chutões, a privilegiar jogadas aéreas, a cometer um absurdo número de faltas e a tumultuar as partidas. Tudo programado e compartimentado.

Os técnicos criaram verdades e dogmas para justificar essa mediocridade coletiva, com o apoio de parte da imprensa. Todas as partidas passaram a ser analisadas a partir da conduta dos técnicos. Lembram-se do programa na TV, “Super Técnicos”? Como era duro assistir a tanta prepotência. O futebol feio, ineficiente e violento, atingiu níveis insuportáveis. Até a turma do oba-oba tem reclamado.

Muitas coisas mesmo que timidamente, começam a mudar. Como se fossem ilhas de esperança. Algumas partidas são excelentes, como Fluminense x Grêmio, por exemplo, dois times organizados, que colocam a bola no chão. O jogo em minha opinião foi do mesmo nível técnico dos grandes e badalados clássicos europeus.

A mediocridade convive com alguns excelentes jogadores, geralmente veteranos, e com Neymar, um fenômeno. Ele, se tiver, com frequência, as mesmas atuações contra as melhores equipes do mundo, seja atuando pelo santos, pela Seleção ou por qualquer um dos grandes times da Europa, se tornará um dos maiores jogadores da historia do futebol mundial. Acho que é questão de tempo.

Um clube que tem um Neymar, não possui um rápido e bom atendimento a atletas com graves problemas na partida. Muito mais importante que a entrada da ambulância é ter condições técnicas, tecnológicas e médicos capacitados para atender os jogadores, conduzi-lo à ambulância bem equipada e, em seguida, ao hospital. Na Inglaterra (exemplo de organização), as ambulâncias não entram no gramado. Todos os estádios brasileiros têm de ser com frequência, vistoriados.

Quando a Seleção, mesmo contra adversários medianos como o Japão, mostra 02 zagueiros que têm bons passes, volantes que marcam e atacam com qualidade, e 04 jogadores adiantados que são meias e atacantes, cria-se uma esperança de que o Brasil possa ter um ótimo time na Copa e que isso provoque mudanças nas equipes brasileiras.

Outros acham que, para reagir, a única solução é jogar mais e perder o Mundial. Cresce também o número de indiferentes. Penso que, depois da Copa, independentemente do que ocorrer, nosso futebol nunca mais será o mesmo, para melhor ou para pior.