Após entrar em uma troca de farpas com o
coordenador de seleções da CBF, Gilmar Rinaldi, ao longo da semana, Zico divulgou
uma longa carta nesta quarta-feira para explicar o seu ponto de vista. E o
Galinho se mostrou incomodado com as palavras do treinador Dunga sobre a
geração de 82 e voltou a questionar a presença do ex-empresário Gilmar na CBF.
- O ponto é que o
futebol brasileiro hoje vive uma lacuna de comando e se desvia o foco com muita
facilidade. Após a eliminação trágica na Copa do Mundo no ano passado, a CBF se
apressou em dar uma resposta. Vale lembrar que o presidente da entidade na ocasião
está preso na Suíça atualmente. E a estruturação começou por um coordenador de
seleções que era empresário até o dia anterior - disse, citando a função
de Gilmar na CBF.
As críticas a
Gilmar e Dunga não pararam por aí.
- O que tenho é o
incomodo com a presença de um ex-empresário no comando das seleções e a
percepção de que a nossa equipe principal entra em campo com jogadores jovens
que se valorizam rapidamente e nem sempre atuam em campeonatos competitivos. E
um treinador obcecado com a geração de 82...
O ídolo do
Flamengo, que jogou as Copas de 82 e 86, deixou claro que a reclamação não é
contra os jogadores da atual geração, mas falou de um ponto que o incomoda.
- Quero deixar
claro que minha crítica não é aos jogadores que foram à Copa América e nem os
culpo pela eliminação. Até acho a postura de "pop star" atual dos
jogadores de futebol em geral um aspecto que me incomoda, mas esse é um
fenômeno mundial. Há qualidade em muitos que foram ao Chile, sem dúvida, e a
questão é mais profunda.
Veja abaixo o texto de Zico na íntegra
"Nos últimos
dias acabei parando no centro da polêmica ao declarar que ficava incomodado com
a hipótese de ver a Seleção Brasileira ser um balcão de negócios. Jogadores que
atuam fora dos grandes centros, um time dependente de um jogador só e uma
dificuldade exagerada para enfrentar rivais da América do Sul. Quero deixar
claro que minha crítica não é aos jogadores que foram à Copa América e nem os
culpo pela eliminação. Até acho a postura de ‘pop star’ atual dos jogadores de
futebol em geral um aspecto que me incomoda, mas esse é um fenômeno mundial. Há
qualidade em muitos que foram ao Chile, sem dúvida, e a questão é mais
profunda.
O técnico da
Seleção insiste, diante de qualquer crítica, em atacar a geração que disputou a
Copa de 82. Eu nunca entendi a razão. O que sei é que nas minhas andanças pelo
mundo sou sempre recebido com carinho e lembrado exatamente por 82. Tenho
orgulho da carreira que construí e nenhum problema em comentar os erros que
cometi. Falo sobre qualquer tema sem desviar o foco. E minha carreira está
aberta.
O ponto é que o
futebol brasileiro hoje vive uma lacuna de comando e se desvia o foco com muita
facilidade. Após a eliminação trágica na Copa do Mundo no ano passado, a CBF se
apressou em dar uma resposta. Vale lembrar que o presidente da entidade na
ocasião está preso na Suíça atualmente. E a estruturação começou por um
coordenador de seleções que era empresário até o dia anterior.
Já fiquei
incomodado ali.
Sempre tive boa
relação com o Gilmar, mas lembrei imediatamente do papo que tive com ele na
passagem pelo Flamengo como supervisor, quando ele me disse num jantar que o
escritório de intermediação de jogadores estava fechado para ele se tornar
dirigente. Ele foi firme na declaração, mas ao deixar o Flamengo levou como
clientes três importantes titulares: Adriano, Juan e Reinaldo. Eu não esqueci o
aquele papo e foi natural imaginar que faria a mesma pergunta a ele no ano
passado, caso tivesse a chance: você ainda é empresário?
A primeira questão
que passa pela minha cabeça é a ética. O termo “balcão de negócios” é uma
preocupação natural, principalmente ao ver que o coordenador de seleções tem
acesso a todo o desenvolvimento das divisões de base do país, além das
convocações e análises de desempenho. Não é difícil perceber como a seleção
atual sofre há anos com a falta de continuidade nas seleções de base. Jogadores
passam por lá historicamente e depois somem. As razões podem ser muitas, mas
será que estou falando alguma novidade?
A CBF vem sendo
envolvida em denúncias e acusações muito mais sérias do que o dilema ético que
me preocupa. Jornalistas, ex-jogadores e personalidades do esporte colocam
constantemente os dedos em feridas bem mais profundas, que realmente não sou
capaz de me pronunciar. Não tenho provas. O que tenho é o incomodo com a
presença de um ex-empresário no comando das seleções e a percepção de que a
nossa equipe principal entra em campo com jogadores jovens que se valorizam
rapidamente e nem sempre atuam em campeonatos competitivos. E um treinador
obcecado com a geração de 82...
Eu quero o mesmo
que todos os torcedores. O melhor para o futebol brasileiro. Espero que mais
uma derrota, essa nova eliminação, e toda a crise institucional na CBF ajudem a
colocar o futebol brasileiro em vias de uma mudança legítima, que leve
democracia e transparência à entidade. Queremos as vitórias, mas o jogo precisa
ser limpo dentro e fora de campo. Pelo menos foi assim que eu aprendi a jogar e
foi assim que conduzi a minha história até aqui.
Até a próxima!"
Fonte: GloboEsporte.com
Foto: Google