Existem milhões de teorias interessantes para
explicar a brutal queda técnica de Ronaldinho Gaucho, a partir da copa de 2006,
na época com 26 anos. É o pensamento operatório, de achar sempre uma única causa
para tudo.
As teorias vão de um profundo distúrbio psicológico,
que nem Freud entenderia, até as mais diretas, no popular, de que Ronaldinho Gaucho,
após ficar famoso e rico, chutou o balde e foi para gandaia. Já os que o
conhecem melhor falam que, na época do Barcelona, ele tinha o mesmo
comportamento, fora de campo.
As pessoas deveriam se espantar mais pelo fato de
Ronaldinho Gaucho ter tido dois anos geniais em sua carreira do que tentar
compreender sua brusca queda, já que, na maior parte de sua carreira, nos últimos
meses de Barcelona, no Milan e no Flamengo, foi apenas um bom jogador, com
alguns raros momentos espetaculares.
No Barça, ele era mais jovem, jogava ao lado de
grandes craques, em uma das melhores equipe do mundo, que tinha um estilo muito
favorável a ele. Todos os grandes craques passam por varias fases em suas
carreiras, de intensidades e durações variadas.
A primeira é a do garoto promessa de craque. A
segunda, a do jogador espetacular, que ganha muitos títulos individuais e
coletivos. Na terceira, ele joga muito bem e com a mesma regularidade, porém
sem o esplendor da fase anterior. Na ultima, que costuma ser a mais longa, ele
administra o sucesso. Ganha como se fosse um superastro, mas, brilha só em
alguns momentos, cada vez menos, até se apagar.
O período espetacular de um grande talento costuma
ser curto. Semana atrás, em uma entrevista a um site que estuda e discute
profundamente os esporte (Universidade do Futebol), o artista plástico e
escritor Nuno Ramos disse que Van Gogh teve apenas quatro anos maravilhosos e que,
em dois anos, pintou a maioria de seus melhores quadros.
Dizer que Ronaldinho Gaucho não dá show porque não
quer é um chavão absurdo. Ele não faz isso, com regularidade, porque não
consegue, mesmo se esforçando e não indo para as baladas.
Parafraseando o grande poeta, Carlos Drummond de
Andrade, Ronaldinho Gaucho genial é um retrato na parede, que não dói. Seus
lances espetaculares estão em minha memória, juntos aos grandes momentos que já
vi no futebol.