domingo, 10 de junho de 2012

Um retrato na parede



Existem milhões de teorias interessantes para explicar a brutal queda técnica de Ronaldinho Gaucho, a partir da copa de 2006, na época com 26 anos. É o pensamento operatório, de achar sempre uma única causa para tudo.

As teorias vão de um profundo distúrbio psicológico, que nem Freud entenderia, até as mais diretas, no popular, de que Ronaldinho Gaucho, após ficar famoso e rico, chutou o balde e foi para gandaia. Já os que o conhecem melhor falam que, na época do Barcelona, ele tinha o mesmo comportamento, fora de campo.

As pessoas deveriam se espantar mais pelo fato de Ronaldinho Gaucho ter tido dois anos geniais em sua carreira do que tentar compreender sua brusca queda, já que, na maior parte de sua carreira, nos últimos meses de Barcelona, no Milan e no Flamengo, foi apenas um bom jogador, com alguns raros momentos espetaculares.

No Barça, ele era mais jovem, jogava ao lado de grandes craques, em uma das melhores equipe do mundo, que tinha um estilo muito favorável a ele. Todos os grandes craques passam por varias fases em suas carreiras, de intensidades e durações variadas.

A primeira é a do garoto promessa de craque. A segunda, a do jogador espetacular, que ganha muitos títulos individuais e coletivos. Na terceira, ele joga muito bem e com a mesma regularidade, porém sem o esplendor da fase anterior. Na ultima, que costuma ser a mais longa, ele administra o sucesso. Ganha como se fosse um superastro, mas, brilha só em alguns momentos, cada vez menos, até se apagar.

O período espetacular de um grande talento costuma ser curto. Semana atrás, em uma entrevista a um site que estuda e discute profundamente os esporte (Universidade do Futebol), o artista plástico e escritor Nuno Ramos disse que Van Gogh teve apenas quatro anos maravilhosos e que, em dois anos, pintou a maioria de seus melhores quadros.

Dizer que Ronaldinho Gaucho não dá show porque não quer é um chavão absurdo. Ele não faz isso, com regularidade, porque não consegue, mesmo se esforçando e não indo para as baladas.

Parafraseando o grande poeta, Carlos Drummond de Andrade, Ronaldinho Gaucho genial é um retrato na parede, que não dói. Seus lances espetaculares estão em minha memória, juntos aos grandes momentos que já vi no futebol.