O
futebol mudou muito mais na estratégia do que na prancheta.
Iniesta
se despediu do Barcelona, mas não da bola. Estará na Copa
do Mundo da Rússia. O futebol nunca vai esquecê-lo. Ele faz parte do
passado, do presente e do futuro. Iniesta trata tão bem a bola, que ela,
agradecida, beija seus pés. Ele e Xavi se completaram. Xavi era mais tático,
tinha mais o domínio do jogo.
Era
o roteirista do espetáculo. Iniesta é o artista, além de ter uma ótima técnica.
Não existe arte sem técnica.
Iniesta
brilha de uma intermediária à outra. Se tivesse sido formado no futebol
brasileiro, o teriam escalado de meia ofensivo e exigiriam que entrasse mais na
área, que fizesse mais gols. Não seria o grande Iniesta. A evolução do futebol,
nas últimas décadas, mais intensa depois da Copa de 2002, foi muito mais de
estratégia e de velocidade do que da prancheta.
No
sábado, na final da Liga dos Campeões, vimos dois modernos e diferentes times.
O Real Madrid, com um estilo equilibrado entre a ousadia e a prudência, contra
o Liverpool, uma equipe explosiva, que corre mais riscos.
O
moderno 4-2-3-1 é quase idêntico ao tradicional 4-4-2. Nas duas formações, os
times se defendem com duas linhas de quatro e deixam dois jogadores mais
adiantados.
Da
mesma forma, o atual 4-1-4-1 é quase igual ao 4-3-3, pois, nos dois sistemas,
as equipes possuem um volante mais centralizado e mais recuado, um armador de
cada lado e dois jogadores pelas pontas, além de um centroavante.
Por
pesquisas realizadas, entendi que desde os anos 1960, muitos times atuam com
três zagueiros e dois alas, porém, com estratégias bem diferentes.
Enquanto
o Atlético-PR adianta a marcação, tenta trocar passes no campo do adversário e,
com frequência, perde a bola, o Fluminense, por exemplo, recua, marca com uma
linha de cinco e outra de quatro e contra-ataca com velocidade, para aproveitar
os enormes espaços deixados na defesa adversária.
Assim
como "Dom Quixote", escrito por Miguel de Cervantes, no século 16, é
considerado o início do romance moderno, a seleção de 1970 foi o início do
futebol atual, pelo menos no Brasil, por unir ciência e planejamento com
inventividade e improvisação, o talento individual com o coletivo e com a
preparação física.
A
seleção brasileira da Copa do Mundo de 1970 foi revolucionária, mas não foi
perfeita. Nas últimas décadas, todos os times que jogam com um trio no
meio-campo possuem um volante mais recuado, centralizado, entre dois armadores,
que atacam e defendem. Na seleção de 1970, foi diferente. Gérson, o armador
mais criativo, o maestro do time, jogava pelo meio, entre o volante Clodoaldo,
um pouco mais atrás, e o meia Rivellino, um pouco mais à frente. Formavam uma
diagonal, um trio torto.
Faltava
um armador pela direita. Essa ausência foi compensada porque Jairzinho, um
superatleta, além de entrar em diagonal, da direita para o centro, para fazer
gols, voltava para marcar, formando um quarteto com Clodoaldo, Gérson e
Rivellino. O time saía do 4-3-3 para o 4-4-2.
No
segundo gol do Brasil, contra o Uruguai, Jairzinho recuperou a bola perto da
área do Brasil, tocou para Pelé, que tocou para Tostão, que lançou para
Jairzinho receber perto da outra área... Enquanto os uruguaios atacavam, os
três atacantes brasileiros estavam no campo do Brasil, e Jairzinho correu de
uma área à outra para fazer o gol. Nada mais moderno.
Muitas coisas antigas são modernas,
e muitas coisas atuais estão ultrapassadas. Como diz um tango, "o tempo
não passa, nós é que passamos".
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