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Foto: Google |
Com o desenvolvimento da ciência esportiva, ocorreram muitas
mudanças na linguagem futebolística. Seria um modismo ou um modernismo? Escuto,
milhares de vezes, palavras e expressões, como amplitude, futebol apoiado,
jogar entre linhas, atacar a bola, atacar o espaço e tantas outras. A mais
recente é ritmista, dita por Tite e agora bastante repetida. O técnico
banalizou a palavra, ao citar todos os armadores que já convocou como
ritmistas.
Ritmista é alguém, em qualquer atividade, que faz as coisas
acontecerem com harmonia, sem sobressaltos, com variações e intervalos
regulares e periódicos, como nos ciclos biológicos e na natureza. Sem ritmo,
seria o caos.
Quando falam de armadores ritmistas, lembro-me de Gérson, Xavi,
Kroos e outros. Apesar de Gérson ter ficado na história como o mestre dos
passes longos, era quem ditava o ritmo. Raramente, errava um passe e tinha o
controle da bola e do jogo. O ritmista quase não dribla. Passa. Os grandes
ritmistas jogam como se estivessem vendo a partida dos camarotes, equipados com
controle remoto, GPS e computador. O controle remoto pararia o lance para que
eles vissem o posicionamento dos companheiros e dos adversários e, a partir
daí, fizessem a escolha certa.
Entre os ritmistas atuais, o mais clássico é Kroos, do Real Madrid, o que não
significa que seja o melhor meio-campista. De Bruyne, do Manchester City, é mais completo. Além de
dar o ritmo, tem uma técnica mais abrangente. Iniesta, do Barcelona, é o artista, inventivo,
que quebra o ritmo, no instante certo. Ele e Xavi se completavam. Outra grande
dupla, por vídeos assistidos, foi Gérson e Rivellino na Copa de 1970, a união
do organizador, do ritmista Gérson, com a técnica e a explosão individual de
Rivellino.
Entre os ritmistas que atuam no Brasil, os que mais gosto de ver
são o experiente Maicon e o jovem Arthur, ambos do Grêmio. Melhor que um é ter
dois. Arthur é uma esperança de se tornar, pelas características, o substituto
de Xavi, no Barcelona, quem sabe fazer dupla com Iniesta, embora o croata
Rakitic seja também um bom ritmista.
Não se deve confundir o meio-campista ritmista com o volante que
marca bem e que tem ótimo passe, como Sergio Busquets, do Barcelona, Casemiro,
do Real Madrid e Fernandinho, do Manchester City. Nem com o meia ofensivo, que
atua perto do gol. Falta à seleção brasileira um craque ritmista. Em
compensação, nenhuma outra seleção tem tantos meias e atacantes hábeis, rápidos
e dribladores, como Douglas Costa, Coutinho, Willian e, principalmente, Neymar.
Uma nova geração de meias e de atacantes velozes, habilidosos e
dribladores vem por aí, com Vinícius Júnior, do Flamengo, Rodrigo, do Santos, e
Paulinho, do Vasco. Se Vinícius Júnior quiser ser um craque, terá de, entre um
belo gol e outro, nos intervalos de sua volúpia de talento, ser menos afoito,
confuso, errar menos e jogar com mais ritmo.
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