Após o 7 a 1, uma das mudanças que ocorreram no futebol que se
joga no Brasil é a presença, na Série A do Brasileiro, de muitos jovens
treinadores, estudiosos, fascinados pela informação e pela estratégia. Quase
todos têm experiências como treinadores de equipes de base, como auxiliares no
time principal e/ou como analistas de desempenho. Pelo trabalho de alguns
deles, já se veem equipes, modestas individualmente, melhores organizadas, como
Botafogo, Vasco e Atlético-PR.
Não se deve criar sobre eles uma expectativa acima da realidade,
ainda mais que técnicos bons e experientes também acertam e erram, ganham e
perdem. Não há ainda certeza se os jovens e promissores se tornarão ótimos
treinadores. Não basta a formação acadêmica. Terão de ter outras qualidades,
como a capacidade de comandar grupos heterogêneos, de tomar decisões rápidas e
que não foram planejadas e ainda serem bons observadores, dos fatos objetivos e
subjetivos.
Concomitantemente com a mudança de perfil dos treinadores
brasileiros, existe uma progressiva transformação na maneira de ver e de
analisar o futebol. Não há mais lugar para técnicos e comentaristas boleiros,
que não acompanharam a evolução do esporte, que não estão bem informados,
tenham ou não formação acadêmica.
É óbvia a enorme importância da preparação científica no
futebol. Por outro lado, há uma tendência perigosa entre treinadores e
comentaristas científicos de supervalorizar as estatísticas e os detalhes
táticos, de achar que tudo o que acontece em uma partida é planejado e
treinado. É um delírio pragmático. Nem tudo tem explicação. A grandeza de um
time está na associação da organização e do planejamento com a improvisação e a
transgressão.
Os jogadores, em uma fração de segundos, com frequência, tomam
decisões corretas ou incorretas, surpreendentes, que não têm nada a ver com o
que foi planejado. Há um hábito de ver falhas coletivas, de apontar culpados em
todos os gols, ignorando os detalhes surpreendentes e individuais. No instante
de um lance rápido, não dá tempo de os jogadores consultarem o manual de
instruções dos treinadores para saber o que foi planejado.
Na primeira rodada do Brasileiro, houve uma prévia do restante
da competição, como jogos bons e ruins, lances belíssimos e bisonhos, erros
decisivos dos árbitros e auxiliares, muito tumulto, pontapés e estratégias mal
e bem executadas.
Sempre que vejo Arthur, do Grêmio, jogar, lembro-me de Xavi,
pelo aspecto físico, pela habilidade de se livrar de vários marcadores, pelas
escolhas e passes corretos, pelo domínio da bola e do jogo e pela mobilidade de
atuar de uma intermediária à outra.
O exigente e bom técnico Renato Gaúcho tem pedido muito para
Arthur entrar na área. Seria bom, mas, se ele fizer muito isso e mais o que
faz, vai se tornar, ressalvadas as devidas comparações, o Pelé do meio-campo.
Os últimos e grandes armadores, como Xavi, Iniesta, Kroos e outros, entram
pouco na área e fazem poucos gols.
Continua no imaginário dos técnicos, comentaristas e torcedores brasileiros a divisão que houve no meio-campo, durante décadas, entre os volantes que marcam e os meias ofensivos que entram na área, para fazer gols. Arthur não é um volante ou um meia, nem a união dos dois. É um meio-campista, um tipo de armador que tinha desaparecido do futebol brasileiro.
Continua no imaginário dos técnicos, comentaristas e torcedores brasileiros a divisão que houve no meio-campo, durante décadas, entre os volantes que marcam e os meias ofensivos que entram na área, para fazer gols. Arthur não é um volante ou um meia, nem a união dos dois. É um meio-campista, um tipo de armador que tinha desaparecido do futebol brasileiro.
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