sábado, 17 de dezembro de 2011

Dois jogaços em um só



A decisão deste domingo pelo título do Mundial de Clubes no Japão não é apenas o contraditório confronto entre duas escolas invertidas, mas também o cotejo entre dois craques cujos estilos se confundem em muitos pontos – Messi e Neymar.

A contradição entre os modelos adotados por Barça e Peixe está no simples fatos de que eles jogam como jogávamos naqueles tempos em que atemorizávamos e encantávamos o mundo; e nós jogamos como quando eles eram mais vacas bravas do que toureiros de fina estampa.

É verdade que o Santos foge um tanto desse padrão vigente no futebol brasileiro há duas décadas. Já esteve bem mais distante deste e muito próximo daquele, no primeiro semestre do ano passado. Mas, ainda assim, por conta de alguns jogadores excepcionais, como Neymar, Ganso, Borges e Arouca, por exemplo, consegue se elevar alguns degraus acima do lugar-comum do pega-pega, mata-mata geral.

Claro, isso não exclui de vez a possibilidade de o Santos voltar do Japão com o caneco debaixo do braço. Trata-se de um jogo só, com todas as variáveis e surpresas que uma partida de futebol oferece em 90 minutos, mais prorrogação e cobranças de pênaltis, numa eventualidade.

Justamente porque tem Neymar, Ganso, Borges e Arouca, que, em três combinações, podem decidir um jogo aparentemente perdido.

Mesmo porque o poder de fogo do Barça para essa partida está em parte comprometido, pela ausência de David Villa e, talvez, do chileno Alexis Sanchez. Digo, em parte, porque Guardiola sempre terá as alternativas de Fábregas e Pedrito para suprir as ausências desses dois atacantes.

Fábregas, é verdade, não chega a ser um atacante de ofício. Mas, nas últimas partidas do Barça, no Espanhol, tem jogado como tal, ali pela esquerda, exatamente na posição ocupada de hábito por Villa, poupado pela fissura na tíbia que acabou se rompendo na estreia do Mundial.

Neymar x Messi


Dito isso, passemos ao jogo paralelo  – a disputa entre Messi e Neymar, dois craques que podem desequilibrar a qualquer momento.

Antes de tudo, vale dizer que não estou estabelecendo aqui hierarquia entre dois talentos imensos, nada disso. Não se trata de saber quem é melhor, se Neymar ou Messi.

Busco apenas cotejar estilos, virtudes e eventuais defeitos dessas duas maravilhas do futebol.

A grande diferença entre ambos é genética o branco: Messi é canhoto natural e o mulato Neymar, destro. Os dois, porém, não são cegos com o pé menos dotado. Messi usa a direita melhor do que muitos destros grossos que andam por aí, e Neymar, idem com batatas, quando se trata de sua esquerdinha.

Messi é aquele canhoto que passou grande parte de sua carreira atuando pela direita, antes de se deslocar para a fluida função de falso centroavante. Na verdade, flutua por todo o ataque, atrás da linha de volantes adversários.

Neymar, da mesma forma, é o destro que parte sempre da ponta-esquerda para fazer suas diabruras.

Tanto Neymar quanto Messi fazem da velocidade poderosa arma, sobretudo aquele arranque curto, com a bola colada ao pé,  que logo deixa o marcador para trás, atônito. O drible é a base dos seus fundamentos. E aqui, numa sintonia fina, veremos que há uma sutil diferença: Messi não reveste seu drible de brilhos extras, mas mantém a bola presa à canhota; Neymar não cansa de inventar novos arabescos, jogo atrás de jogo, deixando a bola mais ao alcance do marcador.

Ambos são eméritos assistentes e, ao mesmo tempo, artilheiros, assim como são exímios cobradores de falta e escanteio.

Messi leva a vantagem de ser cinco anos mais velho do que Neymar, atuando sempre em alto nível nas mais cotadas competições do mundo. Além do mais, como foi forjado nas categorias de base do Barça, que não altera seu padrão desde lá até o time titular, está muito mais integrado à dinâmica do seu time.

Já Neymar, embora também cultivado desde garoto na Vila, em dois anos de carreira como titular, teve de se adaptar às constantes variações de sua equipe, devido à troca de companheiros nem sempre com o mesmo talhe técnico e tático.

(Sim, o Santos tem no seu DNA o futebol ofensivo, criativo, leve e técnico. Mas, isso é um pouco difuso, uma lembrança inconsciente do que tem sido sua história. Não é, porém, um conceito aplicado na prática, de baixo acima, como acontece no Barça).

De qualquer forma, seja qual for o resultado final, teremos neste domingo dois espetáculos de extasiar o mais chato espectador: Santos x Barça e Neymar x Messi.

Por Aleksim Oliveira

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